Elza Soares: do planeta fome à cantora do milênio  

Elza Soares: do planeta fome à cantora do milênio  
Foto: Pedro Loureiro

Ela era guerreira, abelha rainha, gata de sete fôlegos e dura na queda: ela era Elza Soares. Com uma infinidade de tragédias que só mesmo uma mulher maravilha conseguiria superar, dois casamentos e 8 filhos, a artista foi daquelas divas que a gente nem acredita que possa ter nascido no mesmo mundo que nós.

Voz rouca com improvisação e swing jazzísticos, afinadíssima em sua suavidade e com um carisma contagiante, tudo misturado em uma personalidade lutadora, enfrentando uma vida que, desde cedo, não foi fácil.

Nascida em 23 de junho de 1930, no Rio de Janeiro, Elza Gomes da Conceição era filha de pai operário que amava música e mãe lavadeira. Aos 12 anos foi obrigada a casar com um amigo de seu pai, e logo se tornou mãe. Mas aos 21 anos, após seu marido falecer de tuberculose, viu-se viúva, com quatro filhos para criar e a vida para ganhar.

Com um de seus filhos doente, resolveu encarar o ofício de cantar. Fã de Dalva de Oliveira e Ângela Maria, Elza uma vez disse: “acho que nasci música, já chorava cantando”. Seu começo de carreira foi marcante, apoiada por Silvinha Teles e admirada por ícones como Louis Armstrong, Lupicínio Rodrigues e Ari Barroso. Aliás, foi no Programa de Calouros de Ari que ela viveu um dos momentos mais marcantes de sua vida.

Elza Soares: do planeta fome à cantora do milênio  
Foto: Pedro Loureiro

Quando Ari lhe perguntou de que planeta Elza havia vindo, a cantora rapidamente respondeu: “Do mesmo planeta que o senhor, seu Ari: do Planeta Fome”. Neste momento a plateia se calou, e Ari Barroso anunciou: “Senhoras e senhores, neste exato momento nasce uma estrela!”. Apesar de todo o sucesso deste início, a guerreira Elza não conseguiu evitar a morte de seus dois primeiros filhos por desnutrição, e acabou entregando seu outro menino para adoção, por falta de condições de criá-lo. Ainda mais abalada, viu um casal conhecido sequestrar sua filha Dilma, que ela só reencontraria 30 anos depois.

Em 1960 teve seu primeiro disco de sucesso, que estourou como um foguete com a música Se Acaso Você Chegasse, considerado uma fusão de samba com jazz. Em 1962, ao ser convidada a cantar para a seleção brasileira de futebol, conheceu aquele que viria a ser seu segundo marido, e o grande amor da sua vida: o genial Mané Garrincha. A relação começou de forma conturbada, já que Garrincha era casado na época. Foram 16 anos de união, coroados com o nascimento de Manoel Garrincha dos Santos Junior, o Garrinchinha.

Após o agravamento do alcoolismo, Garrincha morreu de cirrose hepática, deixando Elza viúva novamente. Três anos depois, Elza também perdeu seu filho, vítima de um acidente de carro, aos nove anos.

Em 1997, após um hiato de nove anos desde seu disco Voltei, Elza lançou Trajetória, com a participação de Zeca Pagodinho e uma versão da música Meu Guri, de Chico Buarque. Dois anos depois, um acidente no palco do Metropolitan passou a limitar seus movimentos, obrigando a cantora a passar por algumas cirurgias na coluna. Desde então, ela se apresenta sentada em seus shows.

Em 2000, Elza Soares foi eleita simplesmente a Cantora do Milênio pela BBC de Londres. E a diva não parou. Em 2002 foi indicada ao Grammy Latino pelo álbum Do Cóccix ao Pescoço, aclamado pela crítica especializada. E em 2004 inovou, criando uma fusão de samba, bossa e música eletrônica na brilhante Vivo Feliz. 

Em 2007 Elza gravou o primeiro DVD de sua carreira, Beba-me, com uma compilação de seus sucessos. Neste mesmo ano, se apresentou na abertura dos Jogos Panamericanos do Rio, cantando o Hino Nacional.

Já em 2008, a vida e obra da cantora viraram filme intitulado My Name is Now, Elza, produzido, dirigido e roteirizado pela cineasta Elisabete Martins Campos. Vieram regravações de mais sucessos nos anos seguintes como Perigosa, das Frenéticas, e Paciência, de Lenine, além de shows como A Voz e a Máquina e Elza Canta e Chora Lupicínio Rodrigues.

Em 2016, a diva ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum com A Mulher do Fim do Mundo, apontado pelo The New York Times como um dos dez melhores álbuns do ano.

Aos 91 anos, Elza Soares nos deixou, no mesmo dia 20 de janeiro que há 39 anos levou seu amado Mané. Cumpriu sua promessa de “cantar até morrer”. E agora seguirá viva em cada uma de suas canções.

Matéria produzida por Thereza Blota

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