Sting revisita o passado em “The Last Ship”

Dez anos se passaram e um desejo profundo de rever a história de uma vida inteira se transformou na mais recente inspiração do célebre músico britânico Sting.

Estou falando de seu décimo-primeiro álbum de estúdio, entitulado The Last Ship, recentemente lançado pela Universal Music Brasil, depois de experimentar releituras de seus grandes sucessos durante os quatro anos em que esteve na na maior gravadora de música clássica do mundo, a Deutsche Grammophon.

O azul é predominante no encarte do álbum que apresenta a figura gigante de um navio, pronto para desbravar o mar e dar sentido figurativo ao que chamamos de liberdade, a suntuosa analogia que representou a carreira de um dos maiores músicos britânicos da história.

“Na infãncia e na adolescência, de certa forma, eu quase ensaiei para esse tipo de vida. Eu não sentia que nenhum lugar fosse realmente o meu lugar. Sempre tive a sensação de que tinha que viajar, que havia lugares para ir. Eu nasci numa rua onde havia um navio-tanque enorme, era um estaleiro. Construíam os maiores navios do mundo lá. Passavam nove meses do ano construindo o corpo gigantesco do navio sobre as casas. Depois colocavam o navio no rio e ele iria navegar pelo mundo afora, para nunca mais voltar ao porto. Esse é o tipo de símbolo da minha vida.”, disse Sting durante uma entrevista em 1985.

Algumas canções de The Last Ship são verdadeiras narrativas como acontece em The Night The Pugilist Learned How To Dance e Ballad of The Great Eastern que utilizou de seus recursos vocais para representar de forma fidedígna as impressões que teve ao reencontrar os locais por onde viveu, naquela época sob os efeitos sentimentais de uma europa pós-guerra.

A concepção do disco não foi um processo tão agradável. O resultado pressupõe sensíveis introspecções do autor:

“Gravar um disco sempre envolve uma certa quantidade de procura da alma e me conduziiu a lugares que eu teria preferido não revisitar: a infância confusa, a paisagem industrial surreal da cidade, o estaleiro. Eu nasci e cresci ali, sobreviventes, culpa, ressentimentos, a ira dormente e uma nostalgia paradoxal do passado, embora dolorosa, mas ainda assim atraente”

Não espere um Sting mergulhado em novas aventuras do universo rock. Não é o caso! Os violões bem elaborados e amenos e os arranjos de violinos como em August Winds soam como a melhor ambientação e atendem o apelo de dramaticidade sugerida. Tudo isso graças ao meticuloso e excelente trabalho do produtor Rob Mathies.

As canções I Love Her But She Loves Someone Else, So To Speak (com participação da cantora Becky Unthank), Sky Hooks and Tartan Paint (com participação de Brian Johnson do AC/DC) e a canção-título, são os pontos altos de um álbum que aponta para um novo ciclo da carreira Sting, norteada de idas e vindas de seu interior, com a luz incessante de novos rumos musicais.

Setlist:

The Last Ship
Dead Man´s Boots
And Yet
August Winds
Language Of Birds
Practical Arrangement
The Night The Pugilist Learned How To Dance
Ballad Of The Great Eastern
What Have We Got? (com Jimmy Nail)
I Love Her but She Loves Someone Else
So To Speak (com Becky Unthank)
The Last Ship (Reprise)
Shipyard
It´s Not The Same Moon
Hadaway
Sky Hooks And Tartan Paint (com Brian Johnson)
Show Some Respect

Matéria produzida por Marcelo de Assis

É jornalista e pesquisador musical. Cobre shows nacionais e internacionais e já entrevistou bastante gente interessante do Brasil e do mundo. Já realizou reportagens musicais na Record TV para o Domingo Espetacular e Jornal da Record. Foi vencedor do Prêmio TopBlog em 2010 e membro do Grammy Latino.

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